sexta-feira, 23 de abril de 2010

clariceando.

ainda que cansada, ela era feliz. feliz porque amava. diante do amor ja nao sabia como viver. amava tanto que sofria e cansava. mas apesar do sofrimento, havia dentro de si uma alegria a ponto de explodir.
tanta alegria que as vezes ela mesma se negava a ser feliz. mas em sua negaçao engolia o choro. nao se deixava mostrar nem a alegria nem o sofrimento, como se para mostrar que sabia viver, nao pudesse expressar sentimentos.

loucura. nao sabia viver pq amava. sofria e era feliz. nao expressava sentimentos para mostrar aos outros que sabia viver, fingindo uma vida que ela nao sabia que tinha.

e o amor? ela tinha medo dele. medo do que aquele amor representava e significava em sua vida.
tinha medo de ser egoista. tinha medo de nao ser suficiente. tinha medo de fazer sofrer a quem amava.
e saber que aquele que era o objeto de seu amor dependia dela a desesperava.

ela amava e nao tinha pra onde fugir.
e por isso era feliz, mas sofria.
e por isso vivia e ignorava sua propria vida.
se apagava. se isolava.

pq ela tinha medo do medo.

e assim se descobriu mãe.

23/04/2010 - 14hrs

sábado, 17 de abril de 2010

metafora do inconsciente.



sonhei com os 3. dia de visita, ele voltando. ela com cara de esnobe. ele nao tinha rosto, meu pequeno era o mais feliz. doía, mas era por ele que eu tinha que fazer aquilo.
e meu próprio pensamento me disse: isso tudo é uma convalescencia.
convalescencia é convalescença em espanhol (eu sonhei comigo e @regoios na argentina tbm, faz sentido...rs)
e acordei com "convalescente" na minha cabeça, e eu mal sabia o que significava. mas sei que lembro dessa palavra de algum texto da lispector.

dicionario:
convalescença: período após uma doença, de reestabelecimento da saúde
convalescente: quem está se recuperando de alguma doença, ou seja, período em que segue uma doença, até a recuperação completa da saúde.

eu li uma frase de uma amiga no msn  "uma vida pra te tirar da minha. é... convalescencia. nossa, ponto final e a janela dela subiu no msn. coincidencia.
nao ha como prever o futuro, mas sei que o meu presente, no tempo e no presente que ganhei da vida, meu pequeno, eu sou uma convalescente. obrigada

terça-feira, 13 de abril de 2010

matheus:

eu sei que vc ta ai quentinho, nao tao quietinho assim, mas que ta crescendo pra ficar pronto pra chegar.
e enquanto você cresce, você nao tem noçao o quanto a mamae ja cresceu tambem.
tanto na barriga, mostrando pra todo mundo que você ta forte, no peito, pra voce nao morrer de fome, e na cabeça, pra poder te educar e te orientar.
pq vc ta aqui dentro de mim, mas voce vai pro mundo. durante muito tempo eu vou estar aqui, vou cuidar de voce e voce vai cuidar de mim.
vai precisar de mim, e eu preciso tanto de voce, meu pequeno.
e quando voce estiver pronto, eu tambem vou estar.

nesses 6 meses q eu sei q vc ta ai eu ja te falei muitas coisas: que ter medo é normal, que a vida faz parte da vida, que eu sou muito feliz por voce ter mudado tanto a minha vida, que as coisas que parecem erradas nao tem nada a ver com voce, e que no final tudo se encaixa, o tempo sempre é o melhor remédio.

eu sou tao feliz de ter voce, meu amor, cada dia que passa significa que voce ta mais perto de chegar, e eu queria tanto que o tempo passasse depressa, ou que voce fosse tao apressad qto o tio dudu ou a mamae e chegasse assim, antes da hora. mas nao precisa nao. se prepara ai. a mamae ja esperou tanto, espera mais um pouco. e tem coisas pra acontecer até você chegar, nao se preocupe.

me perdoa, meu filho, das vezes que a mamae ficou nervosa ou triste, que só a gente sabe quantas foram.
eu nao queria te deixar triste tambem, mas é inevitavel. mas eu tbm sei que as coisas poderiam ser mais dificeis e que papai do ceu nao da um peso maior doq a gente possa aguentar, e se ele me deu voce agora, é pq a gente consegue.

agora mesmo, voce com 7 meses, eu ja tenho a sensaçao de que consegui. consegui que voce crescesse apesar do que todo mundo sempre me disse sobre eu nao comer feijao etc. consegui mudar meus planos sem medo. consegui segui em frente sem vergonha. consegui ser feliz por ter voce, quando tem tanta gente que simplesmente desiste. satisfaçao, meu anjo. completa.

ainda tem ultrassom pra eu te ver, consultas pra saber como nós estamos, arrumar nossa mala pro hospital.
ainda tem tempo. e é nisso que eu seguro minha ansiedade de te ver. voce aqui fora tem a vida inteira, mas o tempo de voce ai dentro tem prazo definido.

mas eu tenho saudade de voce. é mais que ansiedade de te ver. acho que sao tantos planos pra nossa vida que eu tenho saudade de te ver pra gente viver tudo isso. como se fosse um reencontro.
eu te amo tanto, meu anjinho. desde antes de te ver, antes da certeza de voce estar aí. acho que eu sentia.
talvez por isso as coisas foram tão naturais.

tá tudo pronto, esperando você estar pronto.
eu fico imaginando você deitado na minha cama do meu lado, pra eu poder olhar pra você, ao invés de ficar olhando pra minha barriga. e você segurando meu dedo com a  sua maozinha tao pequena. e se voce vai ter um monte de cachinhos, e como voce vai ser. e que no natal do ano que vem voce ja vai estar andando e falando, e quantas coisas ainda ainda vão mudar.

e é por isso, meu filho, que a mamãe nao tem medo de mais nada. pq nao importa quantas noites em claro eu passe, quantas fraldas eu tenha que trocar, quantas lagrimas eu derrame pra te ensinar a desacostumar do colo (a vovó passou isso com a mamãe), te ver vivendo vai valer a pena. da mesma maneira que as coisas tristes que aconteceram te trouxeram pra mim. "tudo vale a pena se a alma não é pequena". e meu amor por você faz minha alma crescer.

13/04/2010 - 11:30AM.- 7 meses e 6 dias.

domingo, 4 de abril de 2010

A experiência.

me perguntam muitas coisas. como eu to, como ta o bebe, como nós estamos, e o pai, e minha vida, mas a q eu nunca sei responder é "como é a experiencia de ser mae?"
a 1a vista eu poderia dizer q nao sei, ja q o bebe nao nasceu ainda.
mas é inegavel a mudança de comportamento fisico e psiquico a partir do momento em q abri o envelope, li positivo, suspirei, dei boa noite pras meninas da recepçao e liguei em panico pro dito e disse "to gravida!"

vamos direto ao ponto.
acabei de ver juno pela 2a vez. a 1a faz mais de um ano, e eu nao gostei qdo vi.
nao gostei pq achei os personagens apaticos, nao consegui ver reaçao de ngm diante do fato da menina estar gravida, como se fosse a coisa mais normal do mundo uma menina de 16 anos engravidar e decidir oq ia fazer.
e agora, com a catarse de quem acabou de ver o filme e de quem leu oq escreveu eu me sinto.
nao é apatia.tipo, é um acontecimento, temos q tomar uma decisao, sim. tomamos, entao siga em frente.
é oq ela fez, oq a familia fez, oq o namoradinho fez. e oq a mulher q adotou o bebe apesar do cara ter largado ela no meio do caminho fez.

foi oq eu fiz.

na trajetoria dos acontecimentos eu quebrei meus preconceitos.
assim como as pessoas "tecnicamente" me chamaram de burra e/ou louca de assumir oq eu sou (grávida, solteira, 21 anos e buxixeira), eu tbm tinha essa impressao das maes solteiras novas q eu vi passar pela minha vida.
até q eu me vi na situaçao. e percebi q ha mais coisas entre o ceu e a terra do que entende nossa vã filosofia.
a gente nao controla os fatos, e isso nao tem nada a ver com o ato.

oq eu nao gostei na 1a vez q vi juno era q a gravidez pra mim era um great deal, e todo mundo agia como se fosse what-ever. mas na verdade quando as coisas acontecem, é um deal e ponto final. nao importa o tamanho, e a unica coisa q voce pode fazer é decidir como vai viver com o acontecimento. e seguir em frente.

eu tinha medo q meu pai nao olhasse mais pra mim com os olhos de "minha menina", q só me olhasse me culpando por eu expor minha vida sexual pra todo mundo com a minha barriga por ai, e q ficasse puto pelo prejuizo q eu ia dar pra ele, e por eu ser a decepçao da vida dele, pq nao era isso q ele sonhava pra mim.
mas nao. logico q ele nao ficou feliz, mas ele ficou preocupado comigo, com medo da minha reaçao, se eu ia ficar revoltada de ter q mudar meus planos ou se eu estava feliz. e só falou pra eu me cuidar.
e hoje em dia ele passa a mao na minha barriga e ta tudo bem.

e eu tive medo de largar tudo. tive medo de ficar sozinha. tive medo que o pai do bebê nao fizesse nada.
eu larguei tudo, pq eu tive q começar a planejar as coisas em cima do q existe. e agora existe um filho, e até ele ter idade pra ir pra creche ou sei la oq, eu tenho q ver meus horarios pra trabalhar, estudar ou sei la oq tbm.
sozinha eu nao to. tive meus momentos de carencia, de cobrança, tenho meus momentos depre de falta doq fazer pq fico tempodemais em casa. mas minha familia ta aqui, e as amigas tao por perto.
ja o pai do bebê está fazendo tudo que eu nunca imaginei q faria, pq afinal de contas, eu nunca pensei q engravidaria dele nas circunstancias...enfim, nunca pensei nada disso, entao oq vier é lucro...rs

mas hj eu entendi a juno. e me entendi tbm.
nao era desapego q ela tinha. era segurança na decisao.
foi altruista, mas pq ela via no sorriso da mulher q ia adotar o sentimento q ela (juno) nao tinha.
como ela colocou no fim do filme, "eu nao quis ver o bebe pq ele sempre foi dela".

e meu desapego com o resto das coisas, que pros outros parece ser tao dificil ou sei la oq, pra mim é normal por isso.
pq ele é meu. é minha segurança na minha decisao.

como é a experiencia? descoberta do que eu vou descobrir.
esses 7 meses tem sido a descoberta de mim.
e o resto da minha vida com o matheus vai ser a descoberta do mundo.

"vamos descobrir o mundo juntos, baby, quero aprender com o seu pequeno grande coração"

quinta-feira, 1 de abril de 2010

decisões.

gravida aos 21.
de tudo o que eu ja quis, ja fiz, ja fui nessa vida, essa foi a ultima coisa q passou pela minha cabeça.
na verdade eu nunca pensei nisso.
qtas caróis existem aqui? 6 nomes e de gemeos eu tenho um desconto pra ser muita coisa.

filha unica, irma mais velha, do meio, pagodeira, atriz, mionzete, namorada dedicada, amiga conselheira q nao resolvia os proprios problemas, professora, solteira, desapegada, ruiva, baladeira, lulu q nao bebia, cdp q dava trabalho, kiarete, e agora, mae.

mas ser mae nao é fase...rs. é minha vida. nao minha vida tipo "teatro é minha vida", "meu namorado é minha vida", "rock é minha vida". é tipo, o que eu sou a partir de agora...

o cadu falou pra mim "sua vida acabou", e ele ta certo. acabou mesmo.

só eu sei  o medo que eu passei, a desconfiança, a barra de enfrentar a familia, a decepçao com o pai do matheus, as escolhas que tive que fazer, e principalmente, a coragem que o amor pelo meu filho me deu.
o que eu era nao existe mais, agora eu vejo o mundo de outro jeito, tenho outros planos, outras prioridades, e eu escolhi assim.

escolhi pq eu decidi ter esse filho.

muitas chegadas me falaram que nao teriam a mesma coragem. ngm me aconselhoua tirar, até pq qdo eu comecei a contar ja tava tudo resolvido.tirar nunca foi opçao, desde o 1o dia de atraso.
eu decidi deixar ele mudar minha vida. sim, as vezes dá medo da mudança, bate um arrependimento do dia da concepçao,  uma ansiedade de esperar mais um pouco pra ele estar pronto pra nascer.

mas faz parte.

saudade da bagunça? do mesmo jeito que sinto falta do meu cabelo colorido.
mas eu passei todo esse panico sem (poder) tomar um porre, e sobrevivi.
curti cada bxx como se fosse o ultimo, pq nao sabia qdo ia ser de fato o ultimo.
e sobre o teatro, to em recesso. de kiara tbm. e de cerveja tbm.

agora eu vou ter q decidir o que vou fazer do meu tempo,
se vou dormir esperando o matheus acordar, ou vou por ele pra dormir e sair a tempo de ele acordar.
se vou trabalhar mais e ficar menos tempo com ele.
se vou passar o dia ensaiando longe dele.

e isso é mais dificil do q qdo a gente namora e fica com medo de sair e o cara tbm querer liberdade.

eu sempre soube q eu tava gravida de um menino por causa disso. ironia do destino.
o medo q eu tinha de me apaixonar e desfocar da minha carreira e perder minha liberdade de solteira.
a revolta que 5 anos de namoro causam: "nenhum homem vai mandar em mim, nao vou mudar  minha vida por ngm"
e vem esse homem de mim pra me mudar. life's crazy, I know, baby.

ser mae nao é como ser solteira.
nao é uma fase.
é como ser filha: sua mae ta doente, vc da cha pra ela, vc ta carente ela te da colo.
só q a gente nasce filho. ser mae eu nao sei ainda se a gente nasce com esse dom ou nao.
eu sempre quis ser. nao queria mto tarde (minha mae me teve com 32), mas nao esperava tao cedo.
minha luz no fim do tunel é a mesma q o matheus vai ver qdo sair da minha barriga: nova vida.
e isso pertence a mim e a ele.