sábado, 15 de janeiro de 2011

3X4 de 3/4

(este post é grande enorme, escrevi direto e depois dividi em temas. divirta-se, emocione-se, me entenda. ou nao. Viver ultrapassa qualquer entendimento.

Indice
-Introdução
-o dia que ele nasceu
-voltando ao batente
-gravidez
-ja passou
-por isso é assim

Introdução

Quase 8 meses. Eu tenho um filho de quase 1 ano.
Juro, acabei de perceber.
É que como sempre conto os meses, perceber a proximidade do 1o ano foi chocante.

Não, não é um texto sobre "como o tempo passa", até porque o dia tem 24 horas e um ano 365 dias sempre. O que muda a perspectiva sobre a velocidade do tempo é como vivemos esse tempo. E é sobre isso que eu quero falar.

Eu, durante a gravidez, com todos os hormonios e o medo do desconhecido (ser mae de um modo geral - ter um bebê em casa, trabalhar e ser mãe...) sempre soube que assim que o Matheus nascesse tudo seria mais fácil, que a gravidez era o momento mais difícil. E foi mesmo.

Quem me conhece sabe o quanto sou uma agenda ambulante. Então eu fico filosofandinho a cada dia que se celebra o aniversario de alguma coisa (1 ano que fiquei gravida, que desconfiei, que descobri, que contei pros meus pais, que contei pra rê no shopping no dia das crianças), e agora vai fazer 1 ano que eu estive no hospital e soube que não sairia de lá sozinha.


(o dia que ele nasceu)

Foi o dia mais lindo da minha vida: eu sai de casa tão calma, não pensei que ele fosse nascer, apesar de estar fisiologicamente estranha, cheguei no hospital, a plantonista me examinou, ligou pro médico e voltou pra sala de espera pra falar que ele tinha mandado me internar (eu estava com 3 cm, 2 a mais do que no dia anterior).
E então fiquei lá na sala de pré-parto, com o celular na mão, ligando pra todo mundo, sentada na cama e rebolando pra não sentir dor nas costas, com meu cabelo novo (tinha ido de manhã no cabelereiro).

Então meu médico chegou (4 horas depois) pra falar que não ia estourar minha bolsa, que como ele já tinha visto, o Matheus tava de lado, então se eu quisesse esperar, teria que fazer cesária ou fórceps, então era melhor fazer cesária na mesma noite (isso eram 21:30, eu olhava no relógio do hospital toda hora). Então eu falei que era melhor fazer agora, e ele falou que em 15 minutos me buscava pra sala de cirurgia. Daí me gelou a barriga, um puta medo da faca (meu sonho era fazer normal, mas sabia que nao tinha jeito). Então la fui eu passeando pelos corredores na maca, minha mãe do meu lado. Quando eu entrei na sala de cirurgia, meu primeiro pensamento foi "nossa, tem essas luzes de verdade, igual da TV" e o 2o foi "cadê o relógio?".
O relógio ficava na minha cabeceira, tipo aquela cena do Rappa, O que sobrou do céu. Olhava pra cima e pra trás e via. E dai la em o enfermeiro limapr minha coluna 1 milhao de vezes, e me aplicar a rack. QUando deitei eu fiquei mexendo meus pés e falava, ninguém encosta em mim até eu parar de mexer. Eu já tinha tomado anestesia local na boca pra tirar o siso,e quando o dentista foi cortar eu senti, e teve que colocar mais, então já viu né. Então minhas pernas começaram a ficar quentes e me deu uma vontade louca de correr e eu não conseguia me mexer. E no braço esquerdo colocaram o cateter, que doeu muito mais do que a rack e no direito a braceira de medir a pressão, e eu não parava de olhar o monitor, não entendendo nada daqueles números e morrendo de medo de acontecer alguma coisa comigo ou com meu filho.
E então eu sabia que não tinha mais volta, o meu filho iria nascer, sorri e chorei, como agora quando escrevo.
Minha mãe ficou do meu lado direito, segurando a minha mão. Não senti nada, só a mangueira que ficava em cima do lençol que cobria a barriga me indicava que já tinha começado: o sangue e um liquido branco, amarelo sei lá, passava ali, tipo lipo no Dr Hollywood. E então eu ouvi o som que indicava que minha vida tinha mudado definitivamente: o 1o choro. E então olhei pra cima: 22:44, 2 segundos depois ouço o Dr: "22:44", e então falou pra mim "è um menino lindo, você caprichou" e eu disse "foi eu que fiz". E muito choro depois, a enfermeira me mostrou. Ele já estava limpinho, confortavel, enrolado. Eu olhei pra ele e falei "oi meu amor, oi meu filho" Ele era tão vermelho, pequeno, os olhinhos puxados que me encararam como que me reconhecendo.
E então acordei. Só percebi que tinha dormido quando comecei a ouvir vozes, eram as enfermeiras no pós-parto, me dizendo que 00:30 eu iria pro quarto. Eram 23:45. Quando cheguei no quarto, tive que passar pra minha cama, doeu. Naõ lembro se minha mãe já estaav lá, se chegou depois, se chegou enquanto eu estava dormindo. Sei que 1:30 a enfermeira chegou com meu pequeno, pra eu dar de mamar. E foi lindo, e muito difícil. Me senti enganada, a TV é uma mentira. Tudo bem, tem esse negócio de instinto, mas tem o tamanho da boca dele, a posiçao da boca no peito, da posição dele no colo, o sentar na cama com os pontos (dói).
Mas conseguimos. E então passamos nossos primeiros 3 dias naquele quarto. a enfermeira só levava ele pra dar banho, mas ele ficava o dia inteiro comigo, os dois dormindo. Eu só acordava com o choro dele, então apertava o botão pra cama levantar, e me apoiava pra me empurrar pra tras, que dureza a dor! Então minha mãe pegava ele no berço e me dava pra ele mamar.
Ele nasceu num sábado, eu dei banho nele na 2a, e 3a estavámos em casa, onde dei o 1o banho também.
Eu pensava que não ia conseguir subir as escadas de tanta dor (moro no ultimo andar do rodeio), mas domingo depois que levantei (tonta e dolorida) pra tomar banho, ficou mais facil. 2a estava por ai, e 3a estava super bem disposta, subi as escadas, e minha mãe subiu com ele.
Quando estava grávida e o médico falou que talvez teria que ser cesárea (quando estava de 7 meses, o médico falou que ele era "muito grande pra minha estrutura física") eu ficava pensando que minha mãe ia ter que dormir no meu quarto pq eu ia ficar 1 mes sem conseguir levantar pra pegar ele. Mas não. Na nossa 1a noite em casa já nos conhecíamos muito bem. Ele acordava de 3 em 3 horas, eu conseguia levantar e pegá-lo. Ele dormia no carrinho do meu lado. Com o tempo ele dormia na minha cama, e quando acordava eu só colocava o peito pra fora e dormia...kkkkkkkk. E depois, com uns 2 meses, ele foi pro berço. E eu voltei a trabalhar.

(voltando ao batente)

Simples assim, quando ele tinha 2 semanas de vida, o CCAA me chamou pra uma entrevista, com 40 dias eu fiz o treinamento, com 1 mes e meio foi meu 1o dia de aula. E então veio o concurso Garotas de Fato, veio um emprego para substituir uma professora numa escola particular, e veio a seleçao pra um grupo de teatro em Suzano. E eu dei conta de tudo. Claro, com a ajuda da minha família, que ficava com o Matheus enquanto eu ia à luta. E enquanto estava em casa, eu entendia o significado de ser mãe: acompanhar e ajudar no desenvolvimento de uma pessoa. Aprender a segurar a mamadeira, a olhar pro lado que tem barulho, pegar o meu dedo, pegar o próprio pé, chupar o dedo, pegar qualquer coisa e colcoar na boca, os reflexos rápidos, aprender a levantar o pescoço, a sustentar o corpo, a rolar, a se arrastar pra tras, pra frente, tentar engatinhar, ficar de pé no berço, rolar um brinquedo e ir atras, aprender pra que serve o andador, e agora o dente. Não dá pra ver direito, mas ele morde sim. Meu filho tem um dentinho, tá nascendo! E comer? Ele sabe quando quer mamar e quando quer comer. Ele reconhece o pratinho dele. Ele me reconhece quando eu chego em casa e chora quando eu vou no banheiro lavar a mão antes de pegar ele. E ele sorri quando acorda. Sempre.

Juro, gente, desde que eu descobri que estava grávida, apesar dos medos, angústias e hormônios, eu nunca mais tive um dia de mau-humor. Eu fiquei mais calma, eu me transformei numa pessoas mais feliz, paciente, grata.
No começo da gravidez, quando contei pros meus pais, eu me sentia culpada de tão feliz. Porque ficou uma tensão, é inevitável né, o medo do futuro, e eu me trancava no meu quarto e me sentia feliz. Porque não importava quão difíceis as cosias estavam ou seriam, eu teria um filho, eu seria mãe, nada importava.

E se não bastasse a minha felicidade e não mau-humor, eu acordo com os resmungos do Matheus, e quando vou vê-lo, ele sorri. E eu digo "bom dia, luz do dia" e abro a janela e falo "ih, olha lá, o tempo tá feio hoje, nao tem sol" ou entao "olha que sol lindo, meu amor, ai que delicia!"

E assim quase 8 meses se passaram. Eu, mãe, professora, atriz, modelo. Muito além do que eu imaginei pros meus 22 anos. E muito melhor.


Lógico, nem tudo é lindo e perfeito. Todo mundo tem problema etecetera e tal. Mas eu olho pro meu filho e falo "Obrigada por nao desistir de mim, se você nao desistiu, se você acreditou em mim, que sou eu pra desistir. Eu te prometi que tuo daria certo, e vai dar. Já está dando"

(Gravidez)

Estar grávida é quase um relacionamento secreto, sabe? Existe uma cumplicidade entre uma mãe e seu filho que vai além das circunstâncias. Eu sempre conversei com ele, e ele sempre me respondeu. A 1a vez que ele chutou foi a coisa mais impressionante da minha vida. E cada sorriso que ele me dá, é a confirmação do sentimento que eu tive de compreensão.
Foi dia 8/1/2010, eu tinha "discutido" com o pai dele, e assim que desliguei o telefone, coloquei a mão na minha barriga e falei "olha meu filho, você tá vendo, eu tô tentando, eu fiz tudo o que eu podia. não importa o que aconteça, vai dar tudo certo, eu estou aqui, eu vou cuidar de você e você vai cuidar de mim." e dormi. E depois que acordei, deitei no sofá, coloquei a mão na minha barriga e falei "A-mo-oooor", e senti dois cutucos na minha mão. "Mãe, ele chutou!"
Coincidência? Pra mim foi a compreensão e a concordância dele. O "eu sei, estã tudo bem"

Depois disso, eu só falei com o pai dele de novo 1 mês depois, pra contar que era menino, e depois no hospital. Tá, ele ligou 2 semanas dia sim dia não, veio aqui, trouxe uma roupinha, tirou foto, conversamos, entramos num acordo e sumiu. liguei, ele falou que "vou fazer as contas e te ligo depois". 2 meses depois estavamos no forum, nao nos falamos. minha advogada entrou num acordo com ele, ele assinou os papeis, falou com o juiz sobre visita. Aham, claudia, senta lá. Não, nem no natal, nem no ano novo.

(Já passou)

E ver ele com a namorada no shopping no dia das crianças foi o dia do perdão e ele nao sabe (talvez saiba agora - not).
Dia 12/10, eu estava com entrevista no colegio particular dia 15 e a final do concurso seria dia 16. Eu estava no shopping linda e formosa com meu filho e meu irmao mais novo, para a 1a sessão cinema do Matheus, ele com quase 5 meses.
E ele estava ali no shopping com a namorada. A mesma que ele traiu comigo, quando me ligou e me fez acreditar que estaavmos voltando, como se nada tivesse acontecido para os dois. Se eu nao tivesse acreditado nele, ous e tivessemos saido mas nao engravidado e estivesse morando em Sampa, eles estariam ali, juntos, almoçando no shopping no dia das crianças de qualquer jeito. E em todas as hipoteses minha vida mudava. Mudou.
E eu simplesmente pensei, "obrigada por ter me dado um filho, por ter feito a minha vida maravilhosa. Seja feliz do que jeito que você quiser. Seja o que você quiser. Amém."

Sim, por que até aquele dia, não que eu desejasse a morte ou coisa do tipo, mas eu simplesmente nção conseguia olhar pro céu e pedir à Deus que iluminasse a vida do cara, que ele fosse feliz, que ele fosse melhor. Não conseguia desejar nada que fosse bom. Tinha vongtade de socá-lo cada vez que via. Hoje em dia tenho vongtade de dar um cutucão e falar !escuta, amigo, que se passa nessa sua cabeça?" Mas, sabe, não importa. Não. Levemente não. Nada.

É pai do meu filho. E isso eles que resolvam se quiserem daqui uns anos.

(e por isso é assim)

Eu iria dizer que esse é um outro assunto. Mas não é não. Faz parte do que eu vivi em quase 1 ano de vida do Matheus. Aliás, é só por causa desse assunto que eu tenho o Matheus.

Mas é louco pensar em números. Quando penso em 1 ano, eu respiro e falo "meu, eu consegui!"
 Na verdade, eu olho pro meu filho, pra mim, pra minha vida, e sei que consegui.
Consegui superar a obcessao que eu tinha (ok, superada antes de descobrir que estava gravida porque mimimi), superar a raiva, a magoa, ser mae, no sentido de ter um filho (ser fertil, ser gravida, parir, cuidar do filho), conciliar ser mae e mulher que trabalha, conseguir 2 novos empregos em plena licença-maternidade, voltar pro teatro (bonus para garotas de fato), perdoar, me perdoar, seguir em frente. Ser saudavel, ver meu filho saudavel. Ser feliz.

Obrigada, eu consegui.

E foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. E eu faria tudo de novo. Cada passo dos 7 anos que me levaram a esse 1 ano.

E, gente, é dificil explicar a desconexão conexa da história na minha cabeça. Mas a leveza já citada, e a minha história de vida com o Matheus falam por mim.

Eu amo a minha vida. E a minha vidinha, minha pessoinha, minha pecinha, meu anjo, o amor da minha vida, a coisa mais linda, meu filho.

(Mas pensar que quando eu fizer 23 anos ele vai ter 1 ano, quando eu fizer 25, ele vai ter 3, ainda me choca...rs)